BRASIL; ENTRE A DOR DA ALMA E O CAMINHO DO MEIO


Daniel Santos Hercos (*)

Decidi escrever este artigo ao observar o misto de tristeza, desalento e perplexidade das pessoas ao referirem à política do país nos dias atuais. Percebo o brasileiro acorrentado a esta grande incerteza, que se coloca na infinita encruzilhada da sorte, obrigado a escolher pelo voto entre o bem e o mal.

Na verdade, nem sequer sabemos se existem boas pessoas, aquelas ditas confiáveis. Assim, seria mais fácil evitar; fazer do nulo um ato de não contaminar valores íntimos e pessoais. Hoje, estamos submetidos ao trato de governantes que nós mesmos escolhemos. Somos culpados? Acredito que não conheciamos as virtudes destes homens que ao corromper assolam nossa auto estima. Muitos foram apontados e assumiram seus erros, talvez verdadeiramente contaminados pelo sistema. Porem faltaram em não se redimir, por deixar de fazer o compromisso ético e moral de conduta ao prosseguir sua atuação ou mesmo renunciar ao “Poder Publico”.

Somos filhos de uma sociedade cristã com princípios e identidade de relativa solidez. Ser dominado por aquilo que não nos pertence machuca nossa alma, deixa feridas difíceis de cicatrizar. Ou estaríamos enganados, cegos ao não perceber que elegemos realmente uma representação do nosso povo com feridas em flancos abertos e total descompostura?

Digo, a diversidade dos brasileiros pode ser mais forte e coesa que sua representação política. Em nossa história mantivemos o maior território e ainda somos a nação com maior riqueza em todo hemisfério sul do planeta. O Brasil é o orgulho da civilização portuguesa! Não podemos omitir neste momento a escolha de nossos governantes, não seria prudente e nem ato honrado. Sim, devemos marchar em milhões rumo às urnas para enfrentar a grande batalha de votar nos menos ruins; pois dizem e creio que na política não existem “imaculados” e “bonzinhos”.

Acreditar nos homens públicos e sua capacidade de ação não basta para solucionar nossos problemas. Os chineses constroem do outro lado do mundo aquela que está predestinada como a maior economia do planeta. A china mostra seu modelo, a massa do bilhão de pessoas que com trabalho honrado constroem um gigante econômico independente da integridade de seus políticos.

Definitivamente, temos nossa luta própria diante da impotência momentânea, talvez o maior consolo seja fazer um balanço positivo da realidade que vivemos. Poderia ter sido pior; precisamos buscar nossa essência por baixo da lama que inunda nosso cotidiano. Falo do trabalho honesto, do amor e da esperança que nos levaria a suportar sem submeter e daria exemplo de ética e honradez às gerações mais novas.

Existe um caminho do meio. O homem pode ser maior que a instituição, quando nesta falta solidez de valores e nele sobram virtudes.

PRECISAMOS REERGUER DO ÍNTIMO, NO PULSAR DE NOSSAS EMOÇÕES O MAIS PROFUNDO SENTIMENTO: DIGNIDADE, AQUELA QUE NOS ELEVA AO DIZER QUE MELHORES DIAS VIRÃO SEM DEPENDER TOTALMENTE DA ORDEM SOCIAL DITA POLÍTICA.

 

(*) Médico Psiquiatra da UFTM
Membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatria
Publicado no Jornal da Manhã - 03/09/2006


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