"Depressão"- Campanha nas ruas de Barcelona, jun/2005
Foto: Daniel Hercos


Considerações atuais sobre depressão

 


Daniel Santos Hercos (*)

Tristeza e depressão são conceitos que muitas vezes se confundem na linguagem cotidiana. A tristeza é um sentimento humano normal e passageiro, que não compromete nosso raciocínio nem desempenho. Para a medicina, porém, a "depressão” é algo muito diferente. É uma doença psíquica, um desvio onde os sintomas mais claros são o desligamento da realidade, tristeza profunda e prolongada, sentimento de culpa e idéia obsessiva de morte. Desta forma necessita de tratamento e prevenção especializados. Apesar da psiquiatria não conhecer a totalidade das causas da patologia, sabe-se que fatores psicológicos, genéticos, ambientais e bioquímicos acompanham o desenvolvimento da maioria dos casos. Diagnostico e acompanhamento médico são cuidados fundamentais para um tratamento bem sucedido. Esta enfermidade torna-se cada vez mais freqüente, principalmente devido a fatores geradores de ansiedade ligados a vida no mundo atual. Nas ultimas décadas, os estudos sobre a depressão e as doenças que surgem em decorrência dela tiveram um avanço significativo, muitos preconceitos e mitos foram derrubados, o panorama tornou-se mais amplo.

De uma maneira bem simples, nosso cérebro é formado por inúmeras células que comunicam-se entre si através de substâncias químicas chamadas Neurotransmissores e por algum motivo eles não estão "circulando" como deveriam. Por isso as pessoas se sentem, sem pique, com a concentração e a memória fracas, meio "devagar". Muitas vezes ela começa reativa a algum problema existencial com sintomas emocionais prevalentes, na evolução comumente adquire caráter físico. Úlcera, gastrite, hipertensão, infarto e muitas outras doenças são desencadeadas por um Stress(como definem os leigos) . Mas, com o tempo a “depressão” pode aparecer sozinha sem absolutamente nenhum motivo. Por isso é tão importante tratar logo e de maneira completa. As pessoas mais idosas podem apresentar um quadro clínico com falta de memória importante, às vezes mais evidente do que a própria depressão. O paciente, por vezes, fica com "idéias fixas”, tipo: acha a situação financeira ruim e sem perspectiva; se sente culpado por coisas que fez e que não fez; o passado volta carregado de auto-recriminações, de arrependimentos, de coisas erradas que fora da "depressão" a pessoa nem se lembra que existiram; durante a fase depressiva a auto-estima fica abaixo de zero, pode acreditar sofrer de uma doença incurável.

Geralmente a família sofre porque não consegue ajudar e sobrecarrega porque vê a pessoa passar por especialistas, fazer exames, tomar calmantes, estimulantes e vitaminas sem melhora. Então começa a dizer que é fita, "frescura", falta de força de vontade, e começa a dar palpites para a pessoa "se ajudar" "se animar" "reagir" e etc., como se ela não soubesse de tudo isso... 


A depressão não é sinal de fraqueza de caráter e nem passa somente com pensamento positivo”.


A pessoa geralmente está completamente indecisa com relação a tudo. Alguém tem que tomar decisões inclusive para iniciar o tratamento. Questões importantes com relação a problemas atuais de vida devem ser resolvidas depois da melhora do quadro.  Um bom condicionamento físico é sempre importante, pois a ginástica libera endorfinas, que são nossos antidepressivos naturais e aumentam o bem estar. O intestino funciona melhor, a pressão arterial fica mais estável, etc. Yoga, meditação, massagem de relaxamento; sempre ajudam e muito, principalmente as duas primeiras.

Algumas vezes o primeiro remédio não produz resultado. Isso não quer dizer que seja um caso grave. Na maioria das vezes basta trocar a droga.

O médico deve decidir quando diminuir, interromper ou trocar de medicação. Mesmo que a depressão seja curta, o tratamento será longo. Na verdade, quanto mais tempo tomar o antidepressivo, menor é o risco de uma recorrência do quadro no futuro. O acompanhamento psicológico abrevia resultados.  

 

(*) Titular da Associação Brasileira de Psiquiatria
Atua na Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM)

Publicado no Jornal da Manhã - 06/03/2007

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