"Mulher Chorando", Picasso
Coleçao particular - Londres

Sociedade dilacerada que leva aqui do mundo mais um filho do céu...


Daniel Santos Hercos (*)

O mês de fevereiro deste ano ficará marcado pela morte do menino João Helio e sua barbárie cinematográfica que nos remete as antigas arenas do Império Romano com todo seu espetáculo de crueldade ao ver seres humanos arrastados e desmembrados por feras não domesticadas. Não vivemos na antiguidade, impossível cobrir tamanha atrocidade com misero verniz, fomos invadidos onde devíamos ter refugio e conforto, expostos em nossa casa e família. Que monstro é este, muito mais antigo do que a mais antiga memória de nosso inconsciente. Faz arrepiar nossa alma até a raiz de seus últimos cabelos. Seria do período jurássico?

Existe muita diferença entre uma criança de seis anos e o perverso e atávico serial-killer, sem bandeira, ideologia ou religião; corrupto em todas as instancias e coberto de sombras.Embora sejamos tantas vezes capazes de ver o belo,algo espreita a nossa volta ,pronto para o salto,a mordida,o gosto de sangue na boca e o brilho demente no olhar.No sofrimento da vitima aprecia seus gritos,goza com sua humilhação,inflama-se no próprio cinismo. É este homem monstruoso que precisamos domesticar a cada hora de cada dia, ali mora um ser das cavernas descontrolado e louco daqueles que soltam uma gosma amarelada pelos lábios.

O exemplo vem de cima, e nisso estamos mal. Corrupção e impunidade é o modelo que se nos oferece publicamente. E preciso instaurar uma ordem firme, limites ajudam a dar sentido as coisas, a lei não pode ser condescendente. A melhor ferramenta para a vida: enxergar, escutar e questionar. Não podemos calar a boca como antigamente é preciso dispor de recursos para enfrentar o tsunami social que nos rodeia como uma sucuri pronta para devorar sua presa. Ainda temos chance de orientar este caótico mundo que ornamenta nossos olhos com todas as suas cataratas.

Às vezes é inevitável nadar contra a correnteza, não podemos ser vencidos, precisamos chegar a alguma praia ou uma desordem selvagem se instaura neste pais, chega de brutalidade terror e sofrimento.Para estes criminosos não adianta querer a pena de morte pois eles a aplicariam a si mesmos,certos da gloria posterior.O mundo continua,a humanidade anda ,nascemos , vivemos e depois morremos.Mas em nossa existência podemos consertar muitas coisas,nada deve ser varrido para debaixo do tapete. Basta, nunca mais seremos os mesmos,mudanças devem ocorrer dentro de cada um de nós a começar pelas autoridades. Criminosos devem ser punidos com rigor, está na hora de repensar o "Código Penal no Brasil".

 

(*) Titular da Associação Brasileira de Psiquiatria
Atua na Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM)

Publicado no Jornal da Manhã - 17/02/2007


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