"Le Retour de Marcus Sextus" - Pierre - Narcise Guérin, 1799

 

 

ESQUIZOFRENIA

 

 

por Daniel Hercos



Publicada na Revista JM Magazine n.º 10, Junho/2005

 

 

 

 

"Na figura, observe a indiferença e o olhar distante do personagem central, nela a forte expressão de perplexidade do insano".

 

 

A "Esquizofrenia" é uma doença mental grave que atinge cerca de 1% da população mundial. Ela se manifesta no adolescente ou adulto jovem, atingindo-o numa fase da vida em que está se preparando para alcançar ou está iniciando a vida madura independente. Pelo comprometimento de várias funções psíquicas, ela acarreta numerosas perdas para o seu portador; por sua evolução usualmente crônica, na maioria dos casos exige seguimento e tratamento por toda a vida. Os custos do tratamento, diretos e indiretos, são de tal monta que é considerada um grave problema de Saúde Pública.
Diferentemente do que ocorre com outras doenças mentais, a "Esquizofrenia" não é de fácil definição.
Durante muito tempo pensou-se que a marca característica seria a incurabilidade; e a consequente, deterioração mental, mas isto também só ocorre em alguns casos.
Os sintomas principais desta doença são variáveis entre os pacientes, com uma ampla combinação entre os mesmos, tais como:
alucinações, delírios, fala e comportamento desorganizados, afeto inapropriado, déficits do pensamento e função psicossocial prejudicada. O início dos sintomas na maioria dos casos é lento, geralmente precedido por uma fase preliminar caracterizada por retraimento social gradual, interesses reduzidos, mudanças do pensamento e comportamento bizarro ou excêntrico.
As descrições das graves psicoses funcionais crônicas remontam ao início da literatura humana.



ESTRANHO MUNDO

DOS CONCEITOS E DAS PALAVRAS


"...O doente frequentemente chora sem razão; fatos sem importância assustam-no ou o tornam triste... fala de coisas que não lhe diz respeito ou não têm relação com sua vida... interessa-se por assuntos nos quais é normalmente ignorante... geralmente coisas que são só do interesse de eruditos... às vezes vê imagens como em sonhos... e às vezes pode se tornar um pouco agitado..."
(Hipócrates, 460-377 a.C.)



"...Ocorria em jovens que se tornavam melancólicos... com idéias patológicas... pensam que são filósofos, eruditos, poetas...; esta doença de pessoas jovens pode ser causada pelos excessos masturbatórios ou uso excessivo de vinho".
(Areteo da Capadócia, 135-200 d.C.)


Em 1896, Emil Kraeplin descreveu uma doença mental que acometia sobretudo os jovens, com curso de piora progressiva até o estado de invalidez. No ano de 1908, Eugen Bleuler cunhou para esta doença o termo "ESQUIZOFRENIA", que significa "MENTE DIVIDIDA".

 

DAS CORES E DA SENSIBILIDADE

"As imagens do inconsciente são apenas uma linguagem simbólica que o psiquiatra tem por dever decifrar. Mas ninguém impede que essas imagens sejam, além do mais, harmoniosas, sedutoras, dramáticas, vivas ou belas, enfim constituindo em si verdadeiras obras de arte".

(Mário Pedrosa)



Material extraído do suplmenento Arte e Loucura - Vol.4 - referente a trabalhos artísticos produzidos dentro do Hospital de Ju


O DESAFIO DA ESQUIZOFRENIA:


CELEBRAR A VIDA!

 

Boa parte de nossa aflição existencial nasce do fato de vivermos cercados por conceitos e pré-conceitos. Sejamos permissivos e estaremos construindo uma sociedade cada vez mais desagregada. O tratamento farmacológico faz-se necessário na fase aguda e no controle da patologia, entretanto não nos enganemos, a solução imperativa a longo prazo reside no afeto que implica respeito e ternura, sobrepuja as diferenças e estabelece a união entre o enfermo e os outros seres humanos. As medicações de última geração permitem que o paciente retome a vida com o mínimo de qualidade.
Apesar dos custos, temos tido o apoio governamental na distribuição de muitos desses fármacos.
Objetivamente a grande questão é a aderência do paciente ao tratamento. Associar nas intervenções "psicofarmacos e psicoterapia de apoio", é uma conduta legítima e de utilidade provada. Atualmente temos permitido o retorno do funcionamento mental a níveis nunca antes vistos. Há mais franqueza no ar, mais informação circulando entre os leigos, menos medo de recursos efetivos, um dos estigmas que vieram abaixo foi aquele igualava esta enfermidade à morte em vida.

Hoje o esquizofrênico (sem o estigma da palavra), assimila o mundo, os afetos, a arte, a beleza inventada ou natural que nos rodeia.

"CELEBRANDO A VIDA COM TODA A SUA DIVERSIDADE".

Daniel Santos Hercos


 

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