"Rua do Comércio", atual R. Arthur Machado - 1885/1889


Um "causo” das águas claras e brilhantes
            (Homenagem à cidade de Uberaba)


Daniel Santos Hercos (*)

Era uma região de litígio, indígenas ofereciam resistência aos viajantes e colonizadores. Nas margens do Rio Grande localizavam-se os Bororós, os Araxás e os Cataguás.Os Caiapós não tinham habitação certa, sofreram terríveis ataques por determinação da Coroa portuguesa através das bandeiras de apresamento que matavam os que resistiam e de tanta agressão passaram da condição de defesa para a de ataque , destruíram plantações, incendiaram paióis e mataram  brancos.Ao observar o desgosto e sofrimento dos colonos  o governo criou uma nova freguesia, que deveria distar mais de 60 léguas  do “Desemboque” dentro das cercanias do “sertao da farinha podre”.

Seu nome y-beraba tem origem do tupi-guarani e ilustra a geografia  encontrada no local ,a quantidade de córregos e ribeirões sinuosos,cristalinos e de beleza única interpostos entre o delicado relevo composto de colinas.Fora ocupada pela migração de geralistas, como eram chamados os habitantes das Minas Gerais na época do Brasil Colônia, que deixaram as já esgotadas regiões auríferas das Capitanias de Minas e de Goiás (Desemboque), em busca de terras férteis para se estabelecerem como agricultores. A povoação tinha sido fundada, em 1809, pelo sargento-mor Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, oriundo do Distrito de Glaura, pertencente à antiga Vila Rica. Foi elevada à condição de distrito de Índios em 13 de fevereiro de 1811,em 1816 deixou de pertencer a Goiás e foi anexada a Minas Gerais, em 2 de março de 1820 torna-se freguesia.

Hei por bem que se estabeleça uma freguesia no distrito de Uberaba até a confluência do rio Paranaíba e rio Pardo, com a invocação de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba, dividindo-se com a Capela de N. S. Do Monte do Carmo, e com a Freguesia do Desemboque, por onde mais conveniente for. Faça executar com os despachos necessários”. Palácio do Rio de Janeiro em 02 de março de 1820. Com a rubrica de Sua Majestade; Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Rei de Portugal e Imperador Titular do Brasil, João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança (Dom João VI).

Em 1856 ganhou o titulo de cidade. As pessoas escolhiam morar nas partes altas, começavam-se as sete colinas (assim como Roma Antiga); cada qual demarcada com suas igrejas e famílias tradicionais. Na verdade pareciam povoados independentes interligados por ladeiras que conduziam a pinguelas que atravessavam áreas de brejo e seus pequenos cursos d’água.”

O comercio local de cada “alto” permitia  o suprimento de seus moradores.Porem era na baixada da praça  de onde iniciava a mais importante via publica, conhecida como “Rua do Comercio”, que acontecia toda grandeza efervescente desta sociedade no interior do vastíssimo “Império do Brasil”.Durante a guerra do Paraguai ,serviu de apoio ao exercito do Imperador. Seu tamanho e riqueza causou tamanho impacto as tropas,que assim escreveu o Conde D’eu a seu sogro D. PedroII,  “...não imagina vossa majestade como pode ser tão rico seu reino,esta cidade onde  estou tem uma rua com inúmeros sobrados,alguns de vários pisos, o movimento das pessoas e a imagem do local lembram muito a própria Rua do Ouvidor no Rio de Janeiro”.


Com a chegada da “estrada de trem” em 1889 pela Cia Mogiana, Uberaba atingiu seu apogeu, o ponto de partida para todo interior do pais.Nas primeiras décadas do século XX foi o principal entreposto comercial do Brasil central,e chegou a ser uma das maiores cidades da República.

 

(*) Titular da Associação Brasileira de Psiquiatria
Atua na Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM)

Publicado no Jornal da Manhã - 02/03/2007

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